sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Este link no youtube mostra varias gravuras sobre a divina comédia de Dante Alighieri:
http://br.youtube.com/watch?v=Ryx8X4JaW9Y

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Quem foi Conde Ugolino


Canto XXXIII
33.1 Conde Ugolino della Gherardesca, originalmente de família guibelina era, junto com o seu neto Nino dei Visconti, um dos líderes guelfos que exerciam a sua autoridade sobre a cidade de Pisa. Ugolino estava insatisfeito em ter que dividir o poder com Nino, então, traiu seu partido e aliou-se ao arcebispo guibelino Ruggieri degli Ubaldini que era apoiado pelos Lanfranchi, Sismondi, Gualandi e outras famílias gibelinas. Juntos, eles tramaram a expulsão ou prisão de todos os seguidores de Visconti e Ugolino assumiu o poder. Mas o conde sempre achava que poderia ser traído e por isso tratou de eliminar aqueles dos quais suspeitava. Teria mandado envenenar o seu sobrinho, o conde Anselmo da Capraia, temendo que a popularidade do sobrinho reduzisse sua autoridade. Percebendo que os guelfos estavam enfraquecidos no governo de Ugolino, o arcebispo Ruggieri aproveitou a ocasião para traí-lo, divulgando pela cidade a notícia de que o conde Ugolino havia traído a população, e que havia entregue seus castelos aos povos de Florença e Lucca. Conseguiu provocar uma revolta popular que culminou com a invasão do castelo de Ugolino, que foi forçado a se render. Ruggieri, vitorioso, mandou prender Ugolino numa torre posteriormente chamada de "torre da fome". Prendeu também, na mesma cela, Uguccione e Gaddo, filhos de Ugolino, Anselmuccio e Brigata, netos do conde. Meses depois os pisanos lacraram a torre e atiraram a chave no rio Arno. Em poucos dias todos morreram de fome. (Baseado em relato de G. Villani) [Longfellow 67] Voltar
33.2 Ptolomeia é o penúltimo giro do lago Cócito onde são punidos os traidores de seus hóspedes. As almas estão presas no gelo do lago apenas com o rosto para fora de forma que, quando choram, suas lágrimas congelam e cobrem seus olhos. O nome origina-se do personagem bíblico Ptolomeu (I Macabeus 16, 11) onde o capitão de Jericó convida Simão e seus dois filhos ao seu castelo e lá, traiçoeiramente, os mata a sangue-frio: "pois quando Simão e seus filhos haviam bebido bastante, Ptolomeu e seus homens se levantaram, e sacaram de suas armas, e chegaram até Simão na sala de ceia, e o mataram, e seus dois filhos, e parte dos seus servos." [Longfellow 67] Voltar
33.3 Frei Alberigo de Manfredi era um dos frades gaudentes (frades alegres) mencionados no Canto XXIII (23.2). Tendo feito as pazes com seus inimigos, ele os convidou para um jantar em sua casa. No dia do jantar, ele escondeu assassinos de aluguel nos aposentos próximos à sala de jantar e deu ordens aos seus servos que, depois que servissem as carnes, deveriam servir as frutas, e que este seria o sinal para que os homens armados saíssem de seus esconderijos e matassem todos os hóspedes. E assim foi feito. [Longfellow 67]. Na tradução de Italo Mauro, Frei Alberigo se apresenta da seguinte forma: "Eu sou frei Alberigo; aquele eu sou das frutas do mau horto, que aqui recebo tâmara por figo." (Inferno XXXIII: 118-120) referindo-se à pena que agora recebe, bem pior que o crime praticado. [Mauro 98]. Em 1300, data do poema, Alberigo ainda vivia. Voltar
33.4 Ser Branca d'Oria era um respeitado e poderoso cidadão de Gênova. Apesar disso, teria sido o mandante ou assassino do seu sogro, o corrupto Michel Zanche, mencionado no Canto XXII [Longfellow 67]. Ele ainda estava vivo e gozava de liberdade quando o poema Inferno foi publicado e Dante teria sido ofendido pelos amigos de d'Oria numa de suas visitas a Gênova, pelo que foi considerada "a mais atroz das invenções do poeta." (Cesare Balbo, Vita di Dante). Voltar

DIVINA COMÉDIA- INFERNO CANTO XXXIII







1 La bocca sollevò dal fiero pasto
2 quel peccator, forbendola a'capelli
3 del capo ch'elli avea di retro guasto.


4 Poi cominciò: «Tu vuo' ch'io rinovelli
5 disperato dolor che 'l cor mi preme
6 già pur pensando, pria ch'io ne favelli.


7 Ma se le mie parole esser dien seme
8 che frutti infamia al traditor ch'i' rodo,
9 parlar e lagrimar vedrai insieme.


10 Io non so chi tu se' né per che modo
11 venuto se' qua giù; ma fiorentino
12 mi sembri veramente quand'io t'odo.


13 Tu dei saper ch'i' fui conte Ugolino,
14 e questi è l'arcivescovo Ruggieri:
15 or ti dirò perché i son tal vicino.





Este é o Canto da Divina Comedia de DAnte Alighieri, que narra a morte de Cobde Ugolino

Canto XXXIII (em prosa)

O pecador virou-se, afastou a boca daquela terrível refeição, limpou seus lábios nos cabelos do crânio que devorava, e falou:
- Queres que eu me recorde de um terrível pesadelo. Mas, se o que eu disser puder trazer uma infâmia maior a este traidor de quem arranco as peles, tu ouvirás o meu relato e o meu pranto. - e prosseguiu - Eu não sei o teu nome, nem de onde és, mas pareces florentino. Tu deves saber que eu fui o conde Ugolino, e que este outro é o arcebispo Ruggieri. Por causa de sua perversa astúcia, por confiar neste desgraçado eu fui traído, detido e morto, como vês. Mas antes saibas da forma cruel como fui morto para que possas julgar-me. Se o pensamento do que agora vou dizer não te tocar o coração, como tu és cruel! E, se não chorares, será que alguma vez choras? Eu fui preso com meus quatro filhos em uma cela para morrer de fome. Todos os dias meus filhos choramingavam e me pediam pão, e o pão nunca chegava. Eu ouvi o portão da torre lá embaixo ser lacrado com pregos e então olhei para as faces dos meus, e não lhes disse nada. Eu não chorei. Me transformei em pedra por dentro. Eles choravam e meu pequeno Anselminho falou "O que tens, meu pai, o que é que há?" Não respondi e nem uma só lágrima caiu durante todo o dia, nem durante toda a noite seguinte. Quando um raio de sol clareou aquele cárcere doloroso por um instante, me vi refletido nos quatro rostos, e mordi minhas mãos de desespero. E eles, pensando que eu mordia minhas mãos de fome, me disseram: "Pai, nós sofreremos menos se comeres de nós. Tu nos vestisse com estas míseras carnes e tu podes tomá-las de volta!" Fiquei quieto para não me tornar mais triste. Durante esse dia, e o outro, ninguém falou nada. No quarto dia, Gaddo lamentou aos meus pés "Pai meu, por que não me ajudas?" e depois morreu. Depois eu os vi morrendo um a um, do quinto ao sexto dia, os outros três. Por mais dois dias, já cego, chorei sobre seus corpos mortos, até que no oitavo dia a morte me levou.
Quando terminou de falar, virou seu rosto para a sua vítima e voltou a atacar aquele crânio com os dentes, como um cão que não solta o seu osso. Ai Pisa, que vergonha és para a nossa Itália! Se o conde Ugolino era culpado de ter traído um dos castelos teus, nada justificava que seus filhos fossem torturados.
Seguimos adiante até o lugar onde o gelo maltrata de forma mais dura os pecadores. Com os rostos virados para cima, nem nos olhos a sua angustia encontra alívio, pois lá se forma uma barreira de gelo no primeiro choro, quando as lágrimas congelam e preenchem toda a cava do olho.
Embora o frio tivesse afastado toda a sensação do meu rosto, comecei a sentir uma leve brisa e perguntei ao mestre:
- Mestre, que vento é este? Pensei que vento algum poderia chegar a estas profundidades.
- Logo saberás - respondeu Virgílio - pois teus próprios olhos te darão a resposta.
Enquanto conversávamos, um dos desgraçados submersos no gelo nos ouviu e gritou:
- Ó réus tão cruéis que para vós foi imposta a pior das penas, tirai este gelo de meus olhos, e me livrai da dor que impregna meu coração, até que novas lágrimas selem meus olhos outra vez.
- Eu prometo te ajudar, mas diga primeiro quem és. - falei. - Se eu não cumprir o que prometi, que possa eu então chegar ao fundo desta geleira.
- Sou frei Alberigo. - disse o espírito. - aquele das frutas do mau horto, e aqui recebo tâmara por figo.
- Oh! - exclamei. - Então tu já estás morto?
- Pode até ser que meu corpo ainda esteja lá em cima, - respondeu - mas nenhuma ligação tenho mais com ele. Quando uma alma comete traição tão estúpida quanto a minha, o seu corpo lá na Terra é imediatamente possuído por um demônio que o governa até que chegue o seu dia. A alma que antes habitava o corpo cai aqui na Ptoloméia. Mas tu que chegas agora deves também conhecer esse aí do lado. Ele é ser Branca d'Oria e está aqui neste gelo há muito mais tempo do que eu.
- Creio que me enganas - disse eu -, pois que eu saiba, Branca d'Oria ainda vive. Ele come e bebe, dorme e veste roupas!
- É ele sim! - insistiu o frei Alberigo - Antes de Michel Zanche, sua vítima, chegar ao fosso guardado pelos Malebranche, ele já congelava neste lago. O seu corpo foi, na ocasião, recebido por um diabo, que provavelmente ainda o possui. Mas já falei o suficiente. Estende logo tua mão e livra-me os olhos!
Ele pediu, mas eu não obedeci. E foi cortesia minha ser-lhe vilão.
Ah genoveses! Vós que sois avessos a toda lei e adeptos da corrupção; por que o mundo não se livra de uma vez de vossa gente? Pois, fazendo companhia ao pior espírito da Romanha, vi um dos vossos, cujas obras eram tais que sua alma já congela no Cócito, mas seu corpo parece vivo e ainda caminha entre vós.